sábado, 7 de outubro de 2017

QUAL O SENTIDO DA VIDA?


Roberto F. Costa

Voltaire afirmava que os homens nascem e morrem, no infindável suceder das gerações, deixando como marco de sua passagem pelo planeta, apenas uma possível contribuição para a evolução da humanidade.

Dizia também, que a vasta maioria dos homens somente servia para reproduzir exatamente o sistema que receberam da geração imediatamente antecedente, em nada contribuindo para a evolução do homem enquanto espécie, o que era sintetizado no adágio "nos numerus summus et consumere fruges nati" (=nós nascemos apenas para fazer número e consumir os frutos da terra), que equivale a dizer que a imensa maioria da população mundial não serve para nada, e que a humanidade só avança pela diligência de uns poucos.

Por outro lado, Mikhail Bakunin alegava que atrás de nós, no nosso passado, temos a animalidade, quando andávamos de quatro e temíamos a lua, o sol e os raios como deuses, depois passando a humanidade pelo estágio intermediário de predomínio dos deuses e mitos, quando estava apenas genuflexa a divindades, somente com o advento da ciência do século XX se permitindo levantar e caminhar, altivo e altaneiro, com o olhar fixo em sua humanidade, um ideal a alcançar.

Veja que o super-homem de Friedrich Nietzsche não tem nenhum dos super-poderes de seu homônimo ianque, mero plágio mal-disfarçado, mas é aquele que finalmente assumiu a consciência e as conseqüências de sua humanidade, a responsabilidade sobre seu futuro, antes deixada a cargo dos projetos divinos. Morto deus, está o homem órfão e sozinho, somente tendo a si próprio como medida das coisas...

Não sabemos sobre o senso que anima a moira Láquesis, de nada adiantando apelar à sua mãe Themis, que é indiferente a tais reclamações; e como não sabemos o dia da nossa morte, temos que fazer com que cada dia tenha valido algo, e não apenas o passar do tempo, comendo, transando e entorpecendo os sentidos para esquecer o objetivo maior, que é a humanização.

Mas veja que o homem tem seu expoente máximo no reino das idéias e significados e, assim, se algum sentido teleológico pode haver para nossa existência, esse só pode ser encontrado no terreno da cultura.

Rhett Butler, o personagem de Clark Gable, em "Gone With the Wind..." era um sulista cínico, certo da supremacia militar do Norte na Guerra de Secessão, e portanto convencido da inevitável derrocada das forças sulistas. Apesar disso, mesmo se mantendo neutro durante toda a guerra civil, alistou-se com o General Lee quando não havia mais a possibilidade de vitória, preferindo cerrar fileiras com os derrotados do momento por uma questão de honra, em que pese com isso mais uma vez comprando o ódio de seu amor Scarlet O'Hara, interpretado pela linda Vivien Leigh.

É o eterno conflito na alma humana entre o feijão e o sonho, imortalizado por Orígenes Lessa, onde tentamos a todo momento ponderar entre a satisfação hedonista da nossa existência imediata e a compulsão pela transcendência, de sermos mais importantes do que uma simples máquina comedora de alimentos e fazedora de cocô.

Morreremos todos, é certo. Mas se diferença existe entre uma vida e outra, a honradez é o fiel da balança na qual as pesamos. Se podemos classificar de poética a atitude de Rhett Butler, é porque a poesia, comum a toda arte, é uma recriação idealizada da realidade e portanto a estrela que perseguimos almejando nossa humanidade.


Em suma, se existe sentido para a vida, só pode ser encontrado na dedicação a uma causa na qual acreditamos, mesmo sabendo que jamais colheremos o resultado de uma possível longínqua vitória, mas sim que ajudamos a asfaltar a estrada das futuras gerações em seu caminho para a humanização; mesmo sabendo que nosso trabalho e vida serão por elas ignorados a nível individual, ou que nosso sacrifício pode ser vão ou inócuo, que nossa utopia seja irrealizável, mas com a certeza de que vivemos e morremos como homens, e não como animais irracionais...

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