quarta-feira, 9 de março de 2016

PROPAGANDA - Melhor documentário do Festival de Amsterdã

O cineasta neozelandês Slavko Martinov resolveu fazer um exer-cício de como seria a visão dos habitantes do país sobre nós, com o filme Propaganda. Martinov apresentou ao mundo o docu-mentário, em 2012, como se tivesse sido feito pelo governo norte-coreano e publicado em partes no youtube por sua suposta tradutora, Sabine. Só quando estreou no Festival de Documentá-rios de Amsterdam é que o segredo foi revelado.
“Como dizem na Itália, se non é vero, é ben trovato“, comenta o filósofo marxista Slavoj Zizek sobre Propaganda em seu livro Problema no Paraíso (Zahar). Foi Zizek quem me chamou a atenção para o documentário, e tive a mesma impressão que ele, de que “parece tão verdadeiro que é difícil de digerir”, ao mostrar como o capitalismo, o imperialismo e a manipulação de massa “permeiam todos os aspectos das vidas das massas jubilosamente ignorantes, à beira da zumbificação”.
O retrato que os “norte-coreanos” fazem de nós é demolidor. Numa sociedade dominada pelas grandes corporações, elas usam o trabalho escravo para vender produtos desnecessários a outros escravos, nós; a Bíblia é nada mais nada menos que um manual de propaganda utilizado para ajudar a anestesiar o cérebro das pessoas; slogans vagos como o da Apple, “this change everything”, são utilizados porque, como não significam nada, ninguém será contra eles.
Propaganda é especialmente arrasador com os Estados Unidos e sua falsa democracia. “A democracia é só mais um slogan. Os EUA atacaram mais de 30 países e nenhum deles foi transformado numa democracia”, lembra o filme. Na tela, desfilam os milhares de civis mortos nestas invasões, inclusive crianças, em cenas dantescas. Diante de iraquianos assustados, a frase do soldado norte-americano resume a diferença entre discurso e prática: “Estamos aqui pela sua merda de liberdade, se afastem!!!”
Enquanto isso, a “perigosa” Coreia do Norte jamais invadiu país algum. No entanto, sofre sanções da ONU por se armar contra os inimigos –todos eles potências nucleares não sujeitas a sanções.
Também Israel não escapa ao olhar crítico “norte-coreano”, com seu uso político de palavras como “assentamento”, quando o que fazem na Palestina é “invasão”, “confisco”, “colonização”. “Exploram o holocausto para se transformar em vítimas, quando as vítimas são os palestinos”, diz o “psicólogo norte-coreano” que apresenta o documentário, meio a citações de intelectuais de esquerda como Noam Chomsky.
O mais devastador retrato pintado pelo documentário é, sem dúvida, o da indústria da moda e das celebridades. O bombardeio cotidiano de crianças e pré-adolescentes para que comprem produtos é visto pelos “norte-coreanos” como “pedofilia corporativa”. As celebridades são chamadas de “parasitas narcisistas” capazes de ir à África e Ásia “comprar crianças” para se promover –sim, Madonna, Angelina Jolie e Brad Pitt não escapam.
Sobre Michael Jackson, o olhar é de pena. “Vejam o que os Estados Unidos fizeram a este homem”.

https://youtu.be/G7FAn3JZ7NQ

http://www.socialistamorena.com.br/

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