sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Santander ironiza demissões em massa em comunicado do RH


Sex, 21 de Dezembro de 2012 10:01




Um título de seis palavras em uma mensagem emitida por uma alta executiva do Santander dá a dimensão não apenas de como o banco espanhol trata os bancários e bancárias no Brasil. É uma espécie de imagem que se torna uma confissão: o banco espanhol está tirando proveito da estabilidade financeira construída a custo de investimentos públicos no Brasil e pune os trabalhadores. Pois, na quinta-feira, 20 de dezembro, chegou à caixa de correio eletrônico dos funcionários do Santander um email em que a vice-presidente de Recursos Humanos do banco, Lilian Guimarães, assina sob o título "Processo de ajuste na nossa organização". Essas seis palavras poderiam ser reduzidas pela metade: "demissões em massa".

Segundo ela, "nas últimas semanas, o banco passou por ajustes pontuais em sua estrutura, que resultaram em algumas mudanças organizacionais e, infelizmente, na saída de alguns dos nossos colegas". Desde final de novembro, o Santander demitiu 1.280 trabalhadores com 10, 20 e 30 anos de casa.


Para o diretor do SindBancários e funcionário do Santander, Paulo Stekel, o comunicado interno é uma afronta aos bancários e bancárias demitidos nas vésperas de Natal. "Como pode um banco que lucra tanto no Brasil chamar um processo cruel de demissão de pessoas que deram a vida para fazer o banco lucrar tanto de 'ajuste'. O Santander lucrou R$ 5 bilhões de janeiro a setembro. Manda 26% deste lucro líquido lá para a Espanha, sua sede. O banco deveria pedir desculpas por ter estragado o Natal e o Ano Novo de muitas famílias. Mas nem isso. Prefere usar uma linguagem administrativa de alto executivo para tentar justificar as maldades", diz Paulo Stekel.



Em Porto Alegre e região, área de abrangência do SindBancários, cerca de 40 bancários e bancárias foram demitidos. O Sindicato conseguiu reverter 12 casos. Todos esses por motivos de saúde. Portanto, 30% dessas demissões são consideradas ilegais. Trabalhadores em sofrimento psíquico, com lesões permanentes por esforço repetitivo e com uma história de dedicação e competência foram dispensados ao contrário do que o banco tenta demonstrar. "Os Estados, os Municípios e a União investem muitos recursos para abrir vagas de emprego com carteira assinada. O Santander não respeita os brasileiros nem o nosso esforço de criar condições para que o próprio banco lucre na nossa estabilidade financeira", acrescentou Stekel.



O SindBancários entrou com uma representação na Justiça do Trabalho do Rio Grande do Sul para tentar reverter as dispensas, o que foi indeferido. O Tribunal gaúcho acolheu a tese do banco de que as demissões se tratavam de um processo de ajuste organizacional. No entanto, tal tese pode ser questionada diante do número de demissões nos últimos 30 dias. Nos primeiros 11 meses do ano, na área de abrangência do SindBancários, a média de demissões no Santander oscilou entre três e quatro. Nos últimos 30 dias, aumentou 1.000%. Na Bahia, a Justiça do Trabalho acolheu a tese de demissão em massa não justificada e reverteu as demissões.



Ironia

O funcionário do Santander e secretário da imprensa da Contraf-CUT, Ademir Wiederkehr, rebate a avaliação da dirigente do banco. "Não foram alguns colegas, mas 1.280 funcionários desligados conforme lista enviada pelos advogados do Santander após determinação do Ministério Público do Trabalho", destaca. "Isso é demissão em massa", avalia.



A vice-presidenta de RH foi irônica ao afirmar que foi estruturado um "pacote que teve como objetivo propiciar os melhores benefícios aos funcionários que saíram, além de apoiá-los no processo de recolocação no mercado". Para Ademir, esse comentário ofende os trabalhadores do banco. "Os funcionários não saíram, mas foram mandados embora, muitos com 10, 20 e 30 anos de casa e terão enorme dificuldade em se recolocar no mercado", aponta. "E o pacote dos melhores benefícios esqueceu os funcionários com menos de 10 anos de banco", critica.



"Mas agora entendo a nova propaganda onde diz que o Santander investe forte no Brasil. Na verdade, investe forte nas demissões de funcionários. Nós queremos o contrário. Que o banco invista forte no emprego e no desenvolvimento econômico e social do país", salienta Ademir.



Diálogo?



A comunicação interna afirma que "em diálogo com o Sindicato dos Bancários concedemos, adicionalmente, alguns benefícios extras que fazem parte de um acordo assinado no dia de hoje". A frase refere-se ao acordo firmado com o Sindicato de São Paulo, na quarta-feira (19), intermediado pela Justiça do Trabalho, o qual prevê indenizações aos demitidos com menos de 10 anos de empresa.



A funcionária do Santander e secretária de Finanças do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Rita Berlofa, ressalta que o "diálogo" não existiu. "Em nenhum momento houve qualquer aviso ou diálogo com o Sindicato. Fomos surpreendidos pelas demissões e tivemos que agir realizando protestos em agências e concentrações e ingressando na Justiça do Trabalho contra a atitude autoritária e desumana do banco", frisa.



Rita explica que a "negociação com o banco só ocorreu porque o Santander foi acionado na Justiça, após o Sindicato entrar com denúncia e pedido de liminar contra as demissões. O acordo judicial só foi homologado depois de um tenso debate com os representantes do banco", conta. A dirigente sindical lembra ainda que, diante da ação do Sindicato, o TRT concedeu liminar no dia 5 de dezembro, suspendendo todas as demissões no banco. A liminar foi revogada na quarta 19, após a assinatura do acordo judicial.



"Lamentamos profundamente o comunicado da vice-presidente de RH, que acabou por cumprir o papel de informar incorretamente os funcionários do Santander. Na verdade, o acordo com o banco foi fruto de um duro embate e da intervenção da Justiça, e não de um 'diálogo'", afirma Rita.



A dirigente sindical destaca ainda que o acordo foi fruto da tentativa do Sindicato de minimizar ao máximo os impactos sociais das demissões, mas que está longe de ser o ideal. "O que queríamos na verdade era reverter todos os desligamentos e que os bancários fossem tratados com a dignidade que merecem. A própria executiva do banco se refere à unidade brasileira como a mais importante dentro do grupo espanhol. O problema é que o banco retribui o resultado que está tendo no país com demissões e desrespeito aos trabalhadores brasileiros", enfatiza.



Fonte: Imprensa SindBancários/Contraf-CUT com Seeb São Paulo e Feeb RJ-ES
Última atualização em Sex, 21 de Dezembro de 2012 11:48

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