sexta-feira, 5 de outubro de 2012

PROFESSOR DE ECONOMIA SACHS DIZ: "As Economias Mais Bem Sucedidas Estão Na Escandinávia"




 sex, 07/10/2011 - 12:19  Autor: Jeffrey Sachs 6 de outubro de 2011 The Moscow Times

Vivemos em uma era em que as forças mais importantes que afetam todas as economias são globais, e não locais. O que acontece no exterior, China, Índia e outros países poderosamente afeta até mesmo uma economia tão grande como os Estados Unidos.

A globalização econômica tem, com certeza, produzido alguns grandes benefícios para o mundo, incluindo a rápida disseminação de tecnologias avançadas, como a Internet e telefonia móvel. Também reduziu drasticamente a pobreza em muitas economias emergentes - na verdade, só esse motivo já é o suficiente para que a economia mundial deva permanecer aberta e interligada.

No entanto, a globalização também tem criado grandes problemas que precisam ser atacados. Primeiro, aumentou as possibilidades de evasão fiscal, devido a uma rápida proliferação dos paraísos fiscais ao redor do mundo. Empresas multinacionais têm muito mais chances de se esquivarem da sua tributação. Taxação esta que seria justo pelo alto rendimento.

Além disso, a globalização criou perdedores e vencedores. Em países de alta renda - notadamente os Estados Unidos, Europa e Japão - os maiores perdedores foram os trabalhadores que não possuem formação para competir efetivamente com os trabalhadores de baixos salários nos países em desenvolvimento. Os mais atingidos foram os trabalhadores dos países ricos que não têm uma educação universitária. Esses trabalhadores perderam o emprego aos milhões. E aqueles que mantiveram seus empregos viram seus salários estagnarem ou declinarem.

A globalização também tem transmitido o contágio. A crise financeira de 2008 começou em Wall Street, mas rapidamente se espalhou para todo o mundo, apontando para a necessidade de cooperação global sobre bancos e finanças. Mudanças climáticas, doenças infecciosas, o terrorismo e outros males que podem facilmente atravessar as fronteiras exigem respostas semelhantes de todos os lados.

O que a globalização exige, portanto, são políticas inteligentes do governo. Os Governos devem promover educação de alta qualidade para garantir que os jovens estejam preparados para enfrentar a concorrência global. Eles devem aumentar a produtividade através da construção de infra-estrutura moderna e promoção da ciência e tecnologia. E os governos devem cooperar globalmente para regular os setores da economia - especialmente em finanças e meio ambiente - onde os problemas em um país pode se espalhar para outras partes do mundo.

A necessidade de um governo altamente eficaz na era da globalização é a mensagem-chave do meu novo livro, "O Preço da Civilização". Simplificando, precisamos de mais governo nos dias de hoje, não menos. No entanto, o papel do governo também precisa ser modernizado de acordo com os desafios específicos trazidos por uma economia mundial interligada.

Eu escrevi "O Preço da Civilização" na convicção de que o governo dos EUA falhou em entender e responder aos desafios da globalização desde que começou a ter impacto sobre a economia dos EUA nos anos 1970. Em vez de responder à globalização, com mais gastos do governo em infra-estrutura, educação e tecnologia, os americanos elegeram o presidente Ronald Reagan em 1980 porque prometeu reduzir os gastos do governo e cortar impostos.

Por 30 anos, os Estados Unidos tem andado na direção errada, cortando o papel do governo na economia doméstica, em vez de promover os investimentos necessários para modernizar tanto a economia como a força de trabalho. Os ricos se beneficiaram no curto prazo, obtendo massivas reduções de impostos. Os pobres sofreram com a perda de empregos e cortes nos serviços públicos. A disparidade econômica atingiu níveis nunca vistos desde a Grande Depressão.

Estas tendências adversas foram exacerbadas pela política interna. Os ricos têm usado sua riqueza para reforçar a sua permanência no poder. São eles que pagam pelas caríssimas campanhas dos presidentes e congressistas, assim presidentes e congressistas ajudam os ricos - frequentemente em detrimento do resto da sociedade. A mesma síndrome, na qual os ricos ganharam o controle do sistema político (ou reforçaram seu controle sobre ele), agora aflige muitos outros países.

Já temos visto alguns sinais importantes, por todo o mundo, demonstrando que as pessoas estão cansadas com os governos que servem aos ricos, em detrimento dos outros. Começou com os apelos crescentes por maior justiça social. Os levantes em Tunis e Cairo foram, no início, chamados de Primavera Árabe, porque pareciam contido dentro do mundo árabe. Mas depois vimos protestos em Tel Aviv, Santiago, Londres e agora até mesmo nos Estados Unidos. Estes protestos têm chamado primeiramente para uma política mais inclusiva, em vez da política corrupta da oligarquia.

Assim também, o presidente dos EUA, Barack Obama, está gradualmente mudando para a esquerda. Depois de três anos em que sua administração agraciou os lobistas corporativos, ele finalmente começou a enfatizar a necessidade de os ricos pagarem mais impostos. Isto veio no final de seu mandato, e ele poderia muito bem continuar favorecendo os ricos e Wall Street em troca de contribuições para a campanha de 2012, mas há um vislumbre de esperança de que Obama defenderá uma política orçamentária com mais equidade.

Vários governos europeus, incluindo a Espanha, Dinamarca e Grécia, também parecem estar se movendo na mesma direção. Espanha recentemente impôs um novo imposto sobre riqueza para os contribuintes com um patrimônio líquido elevado. A Dinamarca elegeu um governo de centro-esquerda comprometido com o aumento dos gastos públicos financiado por novos impostos sobre os ricos. E Grécia acaba de votar um imposto sobre a propriedade para ajudar a fechar a brecha no seu déficit fiscal.

A Comissão Européia também pediu um novo Imposto sobre Operações Financeiras, ou IOF (FTT), para levantar cerca de $ 75 bilhões por ano. A comissão, finalmente, concordou que setor financeiro da Europa tem sido sub taxado. O novo IOF ainda deve enfrentar oposição política na Europa, especialmente da Grã-Bretanha, com o seu grande e influente setor bancário, mas pelo menos o princípio da equidade fiscal está agora no topo da agenda européia.

As economias mais bem sucedidas, no mundo de hoje, não estão na Ásia, mas na Escandinávia. Usando altos impostos para financiar um alto nível de serviços do governo, esses países têm equilibrado alta prosperidade com justiça social e sustentabilidade ambiental. Esta é a chave para o bem-estar na economia globalizada de hoje. Talvez, grande parte do mundo, especialmente o mundo dos jovens, esteja começando a reconhecer esta nova realidade.

*Jeffrey Sachs é professor de Economia e diretor do Earth Institute da Universidade Columbia. Também é conselheiro especial da secretaria-geral sobre os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas. © Project Syndicate
Veja o original no link: http://www.themoscowtimes.com/opinion/article/most-successful-economies-are-in-scandinavia/444905.html

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