quinta-feira, 2 de agosto de 2012

GOLPES DE ESTADO SUAVES


Manual de autoajuda para os golpes de Estado suaves







Um livro de Gene Sharp, traduzido em 30 idiomas, é a nova Bíblia dos desestabilizadores.

Walter Goobar / Miradas al Sur

Um motim policial na Bolívia pareceu ser a antessala de um golpe de Estado contra o governo de Evo Morales. O conflito começou em 18 de junho com uma greve de mulheres de policiais e continuou com um levante de soldados de baixa patente. Ocorreram todos os tipos de excessos, incluindo a invasão de um escritório da inteligência, destruição de quadros de fotos presidenciais,utilização de armas e insultos a Evo Morales, que era chamado de “pisacoca” pelos amotinados concentrados, de forma ameaçadora, em frente ao Palácio Quemado.

O levante policial não teve maiores repercussões, mas diversos analistas convergem na opinião de que um cenário para um golpe de Estado “suave” estava em construção. Trata-se de uma nova modalidade de desestabilização fabricada nos laboratórios da Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA), já experimentada no Leste Europeu e na Venezuela.

Esta recriação do golpe como método para interromper processos de ampla participação popular foi concebida por intelectuais, como o politólogo norte-americano Gene Sharp, autor de uma bíblia de desestabilização, traduzida em 30 idiomas. Concebido como um manual de autoajuda para a desestabilização, os conselhos de Sharp implicam em colocar a implantação de várias fasescolocadas em prática, inclusive, simultaneamente, que vão desde o abrandamento, deslegitimação, tensionamento nas ruas até a fratura institucional.

A estratégia golpista – baseada no opúsculo de Sharp “Da ditadura à democracia” – se executou com êxito no processo de derrocada do presidente georgiano Eduard Shevarnadze, em novembro de 2003, e na ascensão ao poder de Viktor Yuschenko, na Ucrânia, em dezembro de 2004.

Na América Latina, o uso da estratégia do “golpe suave” foi registrado em cinco momentos. Obteve sucesso em Honduras (2009) e no Paraguai (2012), porém fracassou na Venezuela (2002), na Bolívia (2008 e 2012) e no Equador (2010).

Segundo o jornalista Hugo Moldiz Mercado, a polícia boliviana se converteu em peça fundamental de subversão para a embaixada dos Estados Unidos desde que a tentativa da direita em envolver as forças armadas em seus planos desestabilizadores durante o período de 2006-2009 fracassou.

Esta estratégia para o aparato encarregado de garantir a ordem pública interna – que historicamente tem uma relação carnal com a CIA, a DEA e o FBI –, é manipulada por controle remoto viaBuenos Aires. O que acontece é que, depois de várias expulsões de pessoal militar e da DEA da Bolívia, da Venezuela e do Equador por ingerência, no que tange aos assuntos internos e atividades de espionagem, muitos desses funcionários foram reintegrados na Embaixada dos Estados Unidos em Buenos Aires. A mesma já não conta com espaço físico para abrigar tantosmilitares e agentes antidrogas.

Para esses oficiais dos diversos ramos da inteligência norte-americana – após serem expulsos de seus destinos originais –, que hoje disputam os escritórios e as cadeiras em Buenos Aires, o livro de Sharp é um credo. A experiência da Ucrânia, da Geórgia, da Venezuela, do Equador e da Bolívia, que experimentaram a força do “golpe suave”, confirma o uso que os promotores da desestabilização fazem de climas construídos por meio da manipulação de critérios informativos.

O politólogo Gene Sharp, ao qual se atribuí a autoria da estratégia por trás da derrocada do governo egípcio, propõe 198 “armas não violentas”, que vão desde o uso de cores e símbolos até funerais simulados e boicotes.

Sharp teve que enfrentar acusações de pertencer a uma organização de fachada da CIA e do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que utilizou sua propaganda semanal para advertir o país que Sharp era uma ameaça à segurança nacional.

Sua contribuição à derrocada de Slobodan Milosevic, na Sérvia, em 2000, o catapultou a todo Leste Europeu, América do Sul e Oriente Médio. De acordo com Sharp, a estratégia do “golpe suave” pode desenvolver-se por etapas hierarquizadas ou simultaneamente da seguinte maneira:

1ª etapa: abrandamento, empregando a Guerra da Quarta Geração: desenvolvimento e reprodução de opiniões centradas em déficit reais ou potenciais, abrangência dos conflitos e promoção do descontentamento, promoção de fatores de mal-estar, entre os quais se destacam: desabastecimento, criminalidade, manipulação do dólar, greves patronais e de outros, denúncias de corrupção, promoção de intrigas sectárias e fratura da unidade.

2ª etapa: deslegitimação: manipulação do anticomunismos, incentivo de campanhas publicitárias em defesa da liberdade de imprensa, direitos humanos e liberdades públicas, acusações de totalitarismo e pensamento único, fratura ética e política.

3ª etapa: tensionamento nas ruas: incentivo dos conflitos e fomento da mobilização de rua, elaboração de uma plataforma de luta que englobe as demandas políticas e sociais, generalização de todo o tipo de protestos, expondo falhas e erros governamentais, organização de manifestações, fechamento e tomada de instituições públicas que radicalizem o confronto.

4ª etapa: combinação de diversas formas de luta: organização de marchas e tomadas de instituições emblemáticas, com o objetivo de cooptá-las e convertê-las em plataforma publicitária, desenvolvimento de operações de guerra psicológica e ações armadas para justificar medidas repressivas e criar um clima de ingovernabilidade, incentivo de campanhas de rumores entre forças militares e desmoralização dos organismos de segurança.

5ª etapa: fratura institucional: com base nas ações de rua, na tomada de instituições e nos pronunciamentos militares, se obriga a renúncia do presidente.

Tradução: Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Na foto: O motim dos policiais na Bolívia: antessala de um golpe de Estado.

Fonte: http://sur.infonews.com/notas/manual-de-autoayuda-para-los-golpes-de-estado-suaves

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