sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A Bolívia antes e depois de Evo


Na Bolívia, uma exígua minoria opulenta oprimia e negava seus direitos humanos básicos aos aymaras, quéchuas, guaranis e outros povos originários que formam a maior parte da população. Muito menos ainda reconhecia seus direitos coletivos à identidade cultural, à autonomia e ao território; 90% da população rural vivia na pobreza e o país disputava com o Haiti e Honduras o pior desempenho na região por seu índice de desenvolvimento humano. As empresas públicas criadas pela revolução de 1952 foram privatizadas à preço de liquidação em cumprimento às diretivas do Consenso de Washington, mediante dispositivos anticonstitucionais e escandalosos negócios armados entre as oligarquias e as multinacionais. Vale este exemplo para ilustrar o saqueio: somente o presidente neoliberal Gonzalo Sánchez de Lozada (1993-97; 2002-03) fez uma fortuna superior aos 250 milhões de dólares às custas das privatizações, do desemprego causado por estas a dezenas de milhares de trabalhadores, da entrega dos recursos naturais e da soberania nacional, além da sangrenta repressão contra os movimentos que rechaçavam essas políticas.

Sánchez de Lozada e seu sucessor foram derrotados por rebeliões de povos indígenas e interculturais, que em 2005 conseguiram levar à presidência um dos seus, o aymara Evo Morales, com um aluvião de votos. Iniciou-se então a profunda transformação social que vive hoje a Bolívia. Quem poderia imaginar então as extraordinárias conquistas nos sete anos transcorridos desde então?

Os povos da Bolívia, já com o timão do governo em suas mãos, iniciaram o resgate da independência, da soberania e do desenvolvimento de uma política externa independente, de unidade e integração latino-caribenha e de solidariedade com os povos da região e com todos os que lutam por um mundo melhor. Desafiando os ataques da oligarquia e do imperialismo, Evo lutou na base da queda de braço para transformar em realidade as demandas dos movimentos indígenas e populares. Convocou a Assembléia Constituinte, reivindicação muito sensível dos povos originários, o que permitiu proclamar a nova Constituição e o nascimento do Estado Plurinacional da Bolívia, enterrar a República oligárquica e, com essa arma jurídica, chegar ao resgate dos recursos naturais, das empresas privatizadas e redobrar a luta pela descolonização e a transformação das consciências, o que foi qualificado acertadamente pelo líder boliviano como Revolução Democrática e Cultural.

Em sete anos, a Bolívia erradicou o analfabetismo, sua economia cresceu numa média de 4,7% ao ano, multiplicou por quase seis suas reservas internacionais de divisas, duplicou o PIB por habitante e deixou de ser aquele Estado mendicante, qualificado de falido, que dependia da ajuda internacional até para pagar seus funcionários públicos, conquistas das quais não muitos países podem se gabar em meio à mega crise econômica internacional. Estendeu consideravelmente os serviços de saúde a milhões que não os recebiam e abriu milhares de escolas. É um prestigioso membro da ALBA e da UNASUR, e seguramente logo ingressará no Mercosul, um passo que acrescentará força geopolítica à trazida pela Venezuela a esse bloco de formidável projeção internacional, pois a Bolívia, mesmo sem contar seus recursos energéticos, de mineração e de biodiversidade goza de uma localização geográfica crucial na área.

Não é fortuito que o governo de Bush fizesse todo o possível para impedir a chegada de Evo à presidência nem que Washington, também com Obama, tenha mantido uma persistente política subversiva para derrota-lo, ao extremo de que o estado-maior da contra-revolução esteja localizado na representação diplomática ianque em La Paz. Os Estados Unidos tem modificado suas táticas subversivas à medida que estas fracassam uma após a outra. Ultimamente recorreram a estimular e fazer ruído midiático com demandas de setores populares, entre elas a questão do Tipnis (*), cujos dirigentes defendem interesses particulares e agora se opõem ao referendo que decidirá sobre a rodovia proposta pelo governo, já que sabem que a esmagadora maioria da população do território indígena em questão o apoiará. A Bolívia brilha com a liderança de Evo diante dos povos indígenas e não indígenas como um farol de dignidade e construção nacional em harmonia com a natureza, assunto no qual é líder mundial.

(*)Territorio Indígena e Parque Nacional Isiboro-Secure (N. do T.)
Por Ángel Guerra Cabrera Via Rebelión  Tradução do espanhol: Renzo Bassanetti

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