domingo, 22 de julho de 2012

RUSSOMANO VAI À IGREJA: As pessoas não matam e não roubam porque a lei proíbe, mas porque elas têm uma linha de conduta religiosa

O ópio do povo

Vai começar tudo de novo. Embora o Brasil seja, pelo menos constitucionalmente, um Estado laico, não há um candidato a qualquer cargo público que não queira ficar de bem com católicos, evangélicos, budistas, espíritas, muçulmano, ou seja lá que religioso for. Parece que acreditar em algum deus é condição sine qua non para ser eleito. Do jeito que as coisas são no Brasil, se um candidato se declarar ateu é capaz de ser, no mínimo, apedrejado.
É incrível como as pessoas dão mais importância ao fato de o sujeito ir à missa, frequentar cultos, rezar direitinho nas horas certas, do que ter uma biografia impecável ou um programa de governo que contemple as necessidades mais prementes da comunidade à qual pretender servir.

Para muitas pessoas é mais importante saber se o fulano acredita em deus do que, por exemplo, quais são seus planos para a educação, para a saúde ou para o transporte urbano.
Coisa de louco.

Exemplo dessa verdadeira patologia social que é obrigar a pessoa a ser religiosa, é o candidato do PRB à prefeitura paulistana, o dublê de deputado e apresentador de TV Celso Russomano, que foi a uma missa para mostrar ao eleitorado que ele acredita no deus católico e não em outro qualquer. Depois do ofício, Russomano falou aos repórteres que o seguiram até a igreja. E a sua declaração revela não só o que ele pensa sobre o assunto, mas, provavelmente, também o que pensam os seus adversários:

- Vou em todas as igrejas e vou com muito prazer. E desde que estejam fazendo o bem, quero proteger essas igrejas como prefeito. Quero que todos os templos que estejam abertos em São Paulo sejam preservados, porque dão linha de conduta para a sociedade. As pessoas não matam e não roubam porque a lei proíbe, mas porque elas têm uma linha de conduta religiosa - afirmou.

Destaco essa última parte de sua afirmação: para Russomano, as pessoas não matam e não roubam porque a lei proíbe, mas "porque elas têm uma linha de conduta religiosa".

É incrível como esse tipo de raciocínio distorcido se espalha e acaba contaminando toda a sociedade. E isso é um perigo para a construção de uma nação plural, que abrigue sem distinção todo o tipo de pensamento, que não incentive o preconceito e o ódio pelas minorias.
O deputado/apresentador de TV Russomano, ao declarar que a virtude e a boa conduta são privilégio apenas dos religiosos insulta a história da humanidade, que tem provas inequívocas de assassinatos em massa e tantos outros crimes bárbaros cometidos em defesa de algum entre os milhões de deuses existentes. Além disso, ofende os milhões de seres humanos que vivem pacificamente respeitando e amando os semelhantes, produzindo obras de arte, desenvolvendo a ciência, ajudando a civilização a evoluir material e espiritualmente, sem que para tanto acreditem na existência dessas entidades invisíveis e incorpóreas que tantos sacrifícios exigem dos pobres mortais.

Certa vez, há muito tempo, um alemão barbudo fez uma afirmação que até hoje faz muita gente refletir: "A religião é o ópio do povo."

Cá entre nós, esse alemão entendia das coisas. Os nossos políticos aprenderiam muito se dessem uma espiadinha naquilo que ele escreveu.

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