terça-feira, 31 de julho de 2012

Escravidão moderna: 99% a serviço de 1%

Os offshore não têm pátria*
“O capitalismo tem o mundo a saque e a grande massa da riqueza que rouba está nas mãos de um insignificante punhado. É mais do que tempo de arrumar de vez a questão”.
Filipe Diniz
Enquanto o capitalismo em crise desenvolve uma brutal ofensiva contra os direitos dos trabalhadores e dos povos, só os 10 maiores bancos privados mundiais - incluindo os suíços UBS e Credit Suisse e o inevitável Goldman Sachs – movimentaram para offshores em 2010 mais de 4 triliões de libras, um acréscimo explosivo em relação aos 1,5 triliões que tinham movimentado em 2005.

O capital não tem pátria, e os offshores ainda menos a têm.
Um estudo que acaba de ser publicado (“Estimating the Price of Offshore” - Tax Justice Network, http://www.taxjustice.net/cms/front_content.php?idcat=148) referido pelo “Guardian” (http://www.guardian.co.uk/business/2012/jul/21/offshore-wealth-global-economy-tax-havens?intcmp=239; http://www.guardian.co.uk/business/2012/jul/21/global-elite-tax-offshore-economy) contém elementos particularmente esclarecedores. Estima esse estudo que a “elite global dos super-ricos” fez escapar às malhas do fisco e encaminhou para offshores um total de pelo menos 21 triliões (milhões de milhões de milhões) de dólares, o que equivale aos PIB somados dos EUA e do Japão.

 Essa quantia colossal vem de muitos lados, incluindo de alguns dos países mais pobres de África. Mas o seu destino é no essencial comum: a Suíça e as Ilhas Caimão. E quem trata do seu encaminhamento para paraísos fiscais não são obscuros contabilistas especializados na trapaça fiscal: são os funcionários altamente qualificados da banca privada. Informa o estudo que os 10 maiores bancos privados mundiais - incluindo os suíços UBS e Credit Suisse e o inevitável Goldman Sachs – movimentaram para offshores em 2010 mais de 4 triliões de libras, um acréscimo explosivo em relação aos 1,5 triliões que tinham movimentado em 2005.


Este estudo contém duas conclusões particularmente importantes. Uma, que para muitos países o dinheiro que escapa por esta via aos impostos seria suficiente para cobrir o total das respectivas dívidas externas. Outra, que o volume de riqueza alojado em paraísos fiscais é de tal ordem que, se fosse tido em conta na avaliação dos índices de desigualdade, alteraria profundamente a caracterização actual.

Enquanto 3 mil milhões de seres humanos - 45% da população mundial - sobrevivem com menos de 2 dólares por dia, 92 mil indivíduos - 0,001% da população mundial - possuem bens em offshores no valor 6,3 triliões de libras.

O capitalismo tem o mundo a saque e a grande massa da riqueza que rouba está nas mãos de um insignificante punhado. É mais do que tempo de arrumar de vez a questão.


*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2017, 26.07.2012

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