quinta-feira, 8 de março de 2012

VENEZUELA, HUGO CHAVES, WIKILEAKS E A MIDIA


Venezuela, Wikileaks e a mídia


Via Publico.es

Tradução Renzo Bassanetti

Vicenç Navarro

Há anos, os maiores meios de comunicação norte-americanos e europeus estão liderando uma campanha de desinformação contra a Venezuela, o que contradiz claramente sua suposta imparcialidade em cobertura midiática. Na realidade, essa cobertura pode ser definida como mera propaganda política contra o governo dirigido pelo presidente Chávez. Os documentos publicados por Wikileaks mostram como os diferentes governos federais dos EUA tem estado intervindo diretamente na política doméstica da Venezuela com a finalidade de derrotar o governo Chavez, que consideram uma ameaça aos interesses empresariais norte-americanos, os quais historicamente desfrutavam de uma enorme influência sobre os governos anteriores ao atual no país. O que não era sabido até pouco tempo, contudo, era que – segundo os documentos publicados por Wikileaks – alguns desses meios tiverem um papel muito ativo na desestabilização do governo Chávez, coisa que não tem sido publicada nos maiores meios de informação espanhóis.

A informação recolhida por Wikileaks e canalizada através de alguns dos maiores meios de comunicação permitiu detectar um viés anti-Chávez em tais meios, mostrando um processo de seleção na publicação desses componentes de Wikileaks que podem prejudicar o governo Chávez. Esses meios publicaram, por exemplo, a informação de Wikileaks que assinala – segundo a embaixada norte-americana – a influência que os assessores cubanos tem no governo venezuelano, mas não publicaram a influência dos assessores no governo Uribe (da Colômbia)(*), o qual gozou de uma cobertura muito favorável nesses mesmos meios. Wikileaks publicou os relatórios do embaixador norte-americano na Colômbia, que mostrava a clara participação de setores do exército colombiano no desaparecimento e matança de pessoas. A Colômbia é o país latino-americano que teve o maior número de desaparecidos, com certeza um número muito maior que na Argentina dos anos 70 e 80. Os maiores meios de difusão têm sido muito sucintos na cobertura dessa enorme violação dos direitos humanos na Colômbia, contrastando com o detalhamento (e a falta de objetividade) em sua cobertura às supostas (algumas reais) violações dos direitos humanos na Venezuela.

Entre as supostas violações, está a eliminação da liberdade de imprensa na Venezuela, apresentando o governo Chávez como ditatorial. Os maiores meios de informação espanhóis apresentam como uma realidade a afirmação de que não existe liberdade de informação nos meios venezuelanos. O intelectual orgânico do neoliberalismo na América Latina, Mario Vargas Llosa, sempre se refere ao presidente de Venezuela como “ditador Chávez”, e o mesmo ocorre na Espanha. Um exemplo é o do ex-presidente Jose Maria Aznar, que também se refere constantemente ao presidente como “ditador”. Os fatos, contudo, não dão suporte a tal definição.

Segundo a Nielsen Media Research International (que analisa os meios de comunicação a nível internacional) e o que foi publicado pelo Center fo Economic and Politic Research, de Washington, a grande maioria dos canais de televisão da Venezuela (de onde a maioria da população recebe informação) são privados. As redes públicas, que são minoria, cobrem apenas 5% da audiência. 95% da população recebe informação dos canais privados, a maioria fortemente hostil ao governo Chávez. Os canais públicos, com 5% da audiência, tem um percentual muito menor que na França ou Grã-Bretanha, onde esse índice é de 37%. 



Ninguém acusa o governo desses países de ser ditatorial.

É certo que o enfoque das televisões públicas desses países é muito menos partidário que os canais públicos venezuelanos, com o que a comparação tem limites. O partidarismo dos canais públicos venezuelanos é muito acentuado. Contudo, a clara hostilidade ao governo na maioria dos canais privados (que cobrem a grande maioria dos cidadãos) é enormemente partidarista. A neutralidade e a objetividade não existem em tais meios, os quais são meros instrumentos de propaganda dos grupos de pressão afetados pelas reformas do governo Chávez. 

Falar de falta de liberdade de expressão quando a maioria dos meios está controlada pela oposição, é um indicador claro da ausência de objetividade na cobertura midiática sobre o que acontece na Venezuela, e um exemplo do caráter propagandístico e da falta de rigor que caracterizam os discursos de Mario Vargas Llosa e José Maria Aznar, dentre muitos outros.

Por que tal hostilidade contra governos de esquerda por parte desses meios (não só a Venezuela, mas também Bolívia, Equador, Argentina e Brasil, entre outros, tem sido vítimas das campanhas de desinformação dessa mídia)? 


A resposta é fácil de encontrar: esses meios são parte de multinacionais midiáticas que controlam a maioria da mídia latino americana. Seus interesses se encontram ameaçados por tais governos, que tentam diversificar o leque ideológico nos meios, até o momento dominados por companhias multinacionais com orientação conservadora e neoliberal. Por estranho que possa parecer ao leitor espanhol, a Venezuela tem maior pluralidade ideológica em seus meios que na Espanha, onde o tamanho da imprensa ou meios televisivos de esquerda é muito limitado. Há mais canais de televisão e jornais de direita na Venezuela do que do que meios televisivos e diários de esquerda na Espanha. 

Imaginem se um governo da Espanha quisesse diversificar essa oferta midiática. Haveria uma enorme mobilização dos meios conservadores e neoliberais acusando o governo de atacar a liberdade de imprensa e de expressão. Enquanto isso, definem seu domínio sobre a informação, com escassas vozes e meios alternativos, como “liberdade de expressão”.
A Revolução não será televisionada (mídia golpista brasileira quer repetir o golpe venezuelano)

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